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Desacasalou.


Éramos eu,

Ela e eu um só éramos.

Ela, eu; Eu pra ela.

Vivíamos meu,

Nela eu, num só vivêramos.

Nela no meu; Meu amor dela.

Assim que fomos, logo vivemos.

E no ser um vivo,

Nos eternizamos.

Esta é a história de como ela – e eu – no sempre amamos.

No sempre, amando, nos eternizamos.

Pois já não era de ontem, amava Nivea, e como amava.

Sabíamos de ambos, tanto quanto se sabe do pouco.

Pois já era pouco, a vida, apenas ela.

Efêmera vida, Momentos apenas ligados.

Foi-se então que veio Cronos,

– Titã dos tempos –

E Vênus,

– Deusa do Amor –

E nos disse;

Que o amor há de ser eterno, em sua curta existência.

O amor há de ser saudade, pois em suma dura mortalidade.

E nosso amor já o era tanto e tão, que pouco se fazia injusto.

A nós, a Eternidade.

O resto do infinito, ao lado de Nívea;

Nívea; ao lado de mim.

Passou-se um dia, dois meses, trezentos anos.

As rugas que em mim marcavam, já não eram de regozijo,

Muito menos de velhice.

Eram elas de cansaço.

Nívea vinha, eu saía.

Íamos juntos, voltávamos assim:

Cansados da vida, eu dela – ela de mim.

Cansados de si mesmos, cansados do sem-fim.

Natureza triste esta sobre-humana.

Ora, pois se me fazia sonhar, aos meus ralos dezesseis,

Era-me agora fardo, toda ela.

E ela.

Juntos, inseparáveis, Nívea cansou de mim.

Foi-se aos braços de mortais;

Não nego, pois, que muito antes o mesmo fiz.

Dançávamos aos braços de quem o tempo não corrompeu.

Encontrávamo-nos pouco, nas esquinas de qualquer lugar.

Dizia “ ei” e ela “ oi”, com um sorriso a se desculpar.

Foi-se mais um dia e quinze milênios, quando sentamos para conversar.

E assim sei que foi:

“ Ei. ”

“ Oi. ”

“ Vejas Nívea, aquela é Carmita, belíssima dançarina, minha nova companheira. ”

“ Pois vejas Roberto, o piloto... Ou será Tadeu? ”

Aqui rimos, à cara de nossas desgraças.

“ Se te sabes, o mundo já não é o mesmo, Nívea. ”

“ E como há de ser? ”

“ Se me lembro, o mundo te encantava, Nívea. ”

“ Me encantava por estar com você. ”

“ Pois o mesmo mundo não respeitamos. Teria sido grandioso, maior do que todo outro. ”

“ O mundo? ”

“ Nosso amor! ”

“ Ah, sim... Teria sido eterno, se não tivéssemos eternizado. ”

Na frase suspensa,

Conclusão sábia de Nívea,

Congelei meus pensamentos.

"Teria sido eterno, se náo tivéssemos eternizado."

Logo nos despedimos, confesso,

Nunca mais a vi.

Fora eterno até meus oitenta,

Ou cento e dez se me falha a memória.

Fora improviso, depois, fardo, à frente, grande pesar, agora.

Ama na vida, durante e antes.

Deixa o depois ao depois, ao que te botas a fé.

Porém ama. Sabiamente ama, pacientemente. Ama.

Pois amei, por tanto amar, cerrei os olhos, o coração.

Eternizei o infinito, cabível apenas no finito.

Pois amor eterno, é o real, amor este original.

Amor meu está eterno-duradouro, uma sombra do que um dia foi.

Pois teria nos sido eterno – a mim, a Nívea – Se não houvéssemos eternizado.

Resta a memória, a mim,

Do dia que respondi com “ sim”

A Pergunta: “ Eric, aceita-te Nívea como fiel esposa, até que a morte vos separe? “

Ao que a morte não nos separou, a vida assumiu tal papel.

Dilema inédito, mesmo curioso, o do casal que amou.

Amou até ser eterno, após isso,

Desacasalou.

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